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“Era uma vez…” ou melhor “eu escrevi uma fanfic”. É assim que diversos autores publicados conquistaram seu espaço na indústria literária brasileira. Alguns podem dizer que foi sorte e outros dizem que foi talento, mas esta comunidade tem algo em comum: o amor por criar histórias.

 

Mas suas narrativas não param por aí. Na verdade, a estrada é longa e a viagem é cansativa. Ana Maria Mendes (21), que assina suas obras como Arquelana, autora de Aparentemente Noivos, Realidade Paralela e Querida Penelope, conta  que escrever a ajudou a lidar com a depressão. Sua jornada começou ainda na adolescência, como um hobby, quando a escritora criou uma fanfic da ex-boyband britânica One Direction. Hoje, é publicada pela Qualis Editora, e recentemente fechou um contrato com a Companhia das Letras, além de ter outros livros e contos exclusivos disponíveis no Kindle Unlimited - plataforma exclusiva da Amazon para leitura.

 

Durante a pandemia de covid-19, a jovem autora perdeu familiares em decorrência do vírus, e isso a deixou em um estado emocional crítico. Em consulta com sua terapeuta, a profissional contou à Arquelana que estava prestes a diagnosticá-la com depressão. Porém, percebeu que a escrita foi capaz de salvá-la da doença. 

Arquelana continuou escrevendo como um escape. Durante o lançamento de sua noveleta Realidade Paralela, em 2021, que só foi escrita por causa de um vídeo que a mesma viu no TikTok  - que mostra a vocalista de uma banda após ver o baterista, que também é seu namorado, flertar com uma garota da plateia ao som da canção Still Into You, do Paramore - a autora entendeu que seria algo muito divertido criar um marketing que deixaria o seu público ainda mais próximo dela.

Enquanto escrevia, a autora percebeu que tinha uma saída para sua realidade daquele momento, e se forçava a fazer tarefas diárias, mesmo com a dor das perdas que era algo ainda muito recente. “Quando as pessoas morrem, você não sofre só por quem morreu, sofre por quem ficou. Então eu sofri pelos outros familiares que eram ainda mais próximos daquelas pessoas e estavam destroçados. Eu ainda sofro por essas pessoas. Obviamente, agora o luto é diferente, mas ainda é um sofrimento”.

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“Eu vi que as pessoas estavam reagindo ao marketing. Então resolvi ficar ruiva assim como minha protagonista. Comecei a embarcar de verdade na divulgação da história e foi completamente surreal ver as pessoas embarcando nisso comigo. Ver pessoas, mesmo antes de lerem o livro, se sentirem parte daquilo”, diz a escritora.

 

No cenário atual, onde todos estão conectados nas redes sociais por 24 horas por dia, é muito importante, não só para escritores, mas em diversas profissões, criar uma comunidade de pessoas que se identificam com a mensagem que você está replicando. Arquelana é um ótimo exemplo, que já acumula um público fiel em suas redes. A comunidade estará lá para acompanhar a divulgação e lançamentos de projetos futuros, além de ser impactada por temas diversos que o criador compartilha, como porta voz.  

 

A escritora de fanfic Giuliana Maestrini (23) foi vítima de hate no começo de sua carreira, ainda na adolescência. Se não fosse pelo seu público, sua situação teria ficado ainda mais complicada. No áudio a seguir, a autora conta que foi vítima de cyberbullying no seu grupo de WhatsApp, que era visto como uma comunidade para si mesma e suas fiéis leitoras, onde conversavam e trocavam novas ideias sobre futuros projetos da escritora.

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Giuliana é uma de muitos autores que já sofreram ataques de pessoas desconhecidas e comunidades de fãs distintos na internet. Como a própria autora mencionou, é necessário ter cuidado com o que você fala nas redes. Além de impactar positivamente ou negativamente outra pessoa, o usuário se coloca em risco ao espalhar hate na internet com risco de ser denunciado ou processado.

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Instagram de Giuliana Maestrini

Atualmente, Giuliana ainda escreve em plataformas de fics, mas não na mesma frequência de antes, já que sua confiança foi abalada após o acontecimento. A autora conta que a inspiração e a confiança devem surgir em grande força para que ela se sinta à vontade para publicar mais um capítulo de suas histórias. 

Além do processo de publicação - que já pode ser considerado algo longo e maçante - o criativo é o que assombra os escritores que vivem dos seus livros, afinal, para ganhar dinheiro, as engrenagens da sua mente e da criatividade devem estar funcionando constantemente para que novas ideias possam surgir.

Pode-se compreender que a diferença entre um escritor amador e um autor publicado está no processo de publicação da obra, visto que existem muitos escritores talentosos esperando a sua chance de conseguir a aprovação necessária pela indústria literária. Diversas plataformas estão dando oportunidades para que os escritores tenham o reconhecimento merecido e, dessa forma, conquistem o tão sonhado título de “autor” ao invés de “escritor nas horas vagas”.

Trechos de entrevista das autoras Arquelana, Graziela Santos, Luana Magalhães e Camila Sodré concedidas ao grupo

Giuliana é uma das poucas escritoras que não tem vontade de entrar para o mundo editorial e viver dele, afinal sua experiência com o público não foi tão agradável quanto imaginava.

 

Na opinião de Arquelana, ao entrar no mundo editorial e deixar o amador de lado, é compreensível que a crítica seja maior e necessária. Segundo a autora best-seller, “você entra em um ambiente, vira profissional e espera-se qualidade no que entrega, em uma boa escrita e personagens de qualidade.” Afinal, se você faz parte do grupo de autores que conseguiu realizar o sonho de entrar no mundo editorial, é porque sua narrativa agrada um grande público e existe potencial na sua escrita. 

 

A autora completa dizendo que “o seu texto é um produto”. Como as redes sociais se tornaram um grande portfólio para qualquer profissão nos últimos anos, a sua persona online importa muito para trazer um público fiel a consumir seus conteúdos. Neste caso, a presença do escritor em lugares como Instagram, TikTok e Twitter é essencial para divulgar seus produtos literários de uma forma única e criativa, em um momento em que os seguidores se sentem confortáveis e se importam com sua história e jornada. 

 

Já para a autora Graziela Santos (26), a escrita é para todos e não existe o conceito de profissional e amador. “Se a pessoa escreve, ela é escritora e não tem por que outra pessoa colocá-la para baixo. Ela escreve no wattpad? Ela é escritora. Ela tem livro publicado? É escritora e ponto final, não tem por que colocar empecilho”. Ela acredita que a dificuldade de escrever já é um empecilho.

 

De acordo com a escritora Clara Alves (29), a publicação faz com que mais pessoas opinem na história, passando a não ser só do escritor ou escritora. “Você tem o direito de dizer que não concorda com a opinião dos editores, mas estamos falando de profissionais que entendem de público e mercado. Então, você não aceitar é ter consciência que a sua história pode não ser vendida, já não está de acordo com o que as editoras esperam do seu livro”.

 

O autor publicado possui preocupações diferentes do amador, como o valor da diagramação, onde seu livro será publicado, como vai alcançar pessoas. Portanto, podemos concluir que a diferença vai além do texto.

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Com a ascensão do TikTok durante o ano de 2020, o subnicho do booktok - uma comunidade literária da rede que conta com resenhas, críticas, 'fofoca literária' (uma forma de indicar livros como se o usuário estivesse conversando com a pessoa do outro lado da tela) e aplicativos de fanfic - trouxe facilidade e rapidez na repercussão de informações, e também, serve como um prato cheio para quem busca visibilidade para suas próprias histórias. 

 

A fic é um traço essencial na trajetória de autores, que com muito esforço e dedicação, conseguiram chegar ao tão sonhado mundo editorial. Há quem considere a fanfic uma forma de escrever amadora e infantil, afinal, histórias com membros de boybands e narrativas entre inimigos que se apaixonam “só podem ser coisa de adolescente”.

 

Mas por que existe este preconceito acerca da fanfic? O que a moldou desta forma? Segundo a escritora Luana Magalhães (30), essas histórias impactam muitos jovens de forma positiva e alguns que estão fora do círculo de fics acreditam que não é algo que dá futuro. “É a mesma coisa que você pegar um livro e ler. Não tem diferença. Vai muito do autor que está escrevendo aquilo. Então, se um escritor tem uma linguagem mais juvenil, o livro que ele escrever vai ser daquela forma. As minhas fanfics antigamente tinham uma linguagem diferente porque eu era mais nova. Eu tinha 15, 16 anos, hoje eu tenho 30 anos. Minha linguagem é completamente diferente, o meu contexto, o enredo, os plots que eu escrevo são diferentes por isso”.

 

Como uma sugestão para abrir mais oportunidades para escritores de fanfics, Graziela Santos acha que o primeiro passo é não se envergonhar em escrevê-las. "É nosso trabalho e é a forma como começamos, como nos sentimos bem. Para quem escreve não tem nada melhor do que você saber que não precisa escrever um livro super conceitual e inovador, sendo que não é o que você gosta de fazer, não faz sentido nenhum”, opina.

 

A fanfic de fato é uma ótima forma para começar sua jornada na escrita e também como leitor. Porém, não é algo que traz retorno financeiro. Assim, as autoras entrevistadas para esta matéria, além de outras que se tornaram grandes nomes no cenário literário brasileiro, encontraram formas de publicar suas histórias que começaram como fics, para um produto revisado e pronto para entrar - seja físico ou digital - na casa de seus fiéis leitores. 

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